LIXO QUE NÃO É LIXO



Loas ao programa de coleta seletiva, implantado há um ano ou dois, em Campo Grande, MS, que visa a reciclagem do lixo que não é lixo, por indigesto, faz mal à natureza e a todos os bichos. Lá da Química, Lavoisier já dizia “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.” Eis a questão: tudo se transforma. Mas, há “criações” do homem que levam muito tempo para a natureza digerir como as tais garrafas e caixas de plástico, latas, vidros e as perigosas, como pilhas e lâmpadas.

Sem entrar no mérito da rentabilidade, da relação entre o custo e o benefício, constata-se a interação da sociedade com o programa, ao dispor uma vez por semana, na frente das suas casas o saco de cor verde, fruto da dedicação e preocupação com a qualidade de vida, anseio de todos.

Cada dia que passa mais um desses sacos a demonstrar o convencimento pessoal crescente em conservar a natureza e dela usufruir nas melhores condições. Vale citar a dengue, que por sua gravidade estimula uma reação quando se chega a 50 mil infectados a partir p.ex. de um simples copinho que depois de um gostoso café no bar ou mercado, mais a pressa... e na valeta se transformou em ninho do mosquito que vai gerar doença, hospitalização, já precária, e até morte. Copinho, mas pode ser o pneu da borracharia, o para-lama da funilaria, o vaso de flor no cemitério, aquele “caco” de pickup largado no depósito público...

Cada um fazendo a sua parte, o poder público e o cidadão. Este sustenta aquele e lhe dá competência para administrar o espaço comum, às vezes utilizado de forma incorreta e prejudicial ao conjunto. Eis porque existe o poder público para orientar, reprimir e ajudar. Orientar o que separar para a coleta seletiva, como preparar, se a pet e as caixas amassadas para o volume ser menor e permitir maior quantidade a ser recolhida, desde as caixas da pasta de dente aos panfletos distribuídos nos semáforos, que no passado tinha como regra a “distribuição interna” e hoje é a salvação para quem precisa trabalhar e não consegue emprego.

 Pequenos itens, que por vezes não nos damos conta, se somam aos milhões na linha de produção tipo intestino da sociedade, como os tubos de creme dental, sacos do quilo de feijão, dos 250 gramas disso e daquilo, frascos do adoçante, até as tampas das canetas. Etc. Gasta pouco tempo em acomodá-los no saco verde em comparação com muitos anos para a natureza absorvê-los. As intervenções na televisão do Papo Cabeça com a dupla Nico e Lau já auxiliam no processo educativo e podem orientar com exemplos concretos de como fazer melhor.

 Reprimir o descarte indevido em locais públicos ou privados.

 Ajudar a população na coleta daquilo que não é o lixo úmido, nem o que vai ser colocado no saco verde, mas que o cidadão tem dificuldade em descartar: sofá, geladeira, fogão já inservíveis, uma pequena quantidade de entulho, que por vezes são alvos das reportagens, nas margens dos rios e nos terrenos baldios. Um número de telefone da Prefeitura, caminhão e roteiro para o recolhimento devem representar muito menos do que se gasta para tratar das doenças e sofrimento dos humanos e animais e dos danos ao meio ambiente.

Ao pensar em conservação da natureza e posturas municipais, é bom lembrar que a manutenção das calçadas cabe aos proprietários, mais fácil ao poder público cobrar que estejam em bom estado, sem o mato que camufla o plástico que acumula água, que possam servir ao pedestre de modo que as use e não corra o risco de ser atropelado nas ruas. Os terrenos baldios não cercados, com mato, restos de obras, retratos do abandono, mas que enfim ainda contêm árvores, pouso das araras e tucanos. Até quando não se sabe; lotes cada vez menores, divididos para a construção de casas, onde quase não sobra espaço para plantar cebolinha/coentro/salsa.

Casas menores também são necessárias para que caibam no orçamento de cada um, e que o terreno tenha área livre de concreto e tijolo. Que existam condomínios ou lotes independentes, cujo luxo das construções esteja aliado a grandes áreas verdes.

O protesto da natureza — berro, brado, grito — não se faz presente nas audiências públicas, gabinetes, frentes dos palácios e tribunais, mas nas doenças, enchentes, erosões, desmoronamentos e nas desgraças

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