LEITE ERA ADULTERADO COM ÁGUA DE POÇO E EM LOCAIS SEM HIGIENE NO RS



Operação do MP desvendou fraude na produção do leite no estado.
De acordo com a investigação, suspeitos compraram 98 toneladas de ureia.


A operação do Ministério Público que investiga a adulteração de leite no Rio Grande do Sul também revelou as condições onde ocorria fraude nas transportadoras. Antes de ser negociado com indústrias, o leite era armazenado em galpões sujos e sem refrigeração, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV (veja o vídeo).
Até o momento, foram presas oito pessoas em três cidades por envolvimento na fraude. De acordo com a investigação, cinco empresas de transporte de leite adulteraram o produto cru entregue para a indústria. De acordo com a investigação, os suspeitos compraram 98 toneladas de ureia, quantidade suficiente para adulterar 100 milhões de litros de leite em um ano.
Esquema de adulteração no leite é desmontado pelo MP no RS (Foto: Reprodução/RBS TV)Água usada era extraída de posto artesiano em Ibirubá
(Foto: Reprodução/RBS TV)
A água adicionada ao leite vinha de um poço artesiano e nem sequer era tratada. Do galpão, o produto seguia para os postos de resfriamento. A movimentação nos sítios onde a fraude acontecia era maior à noite, quando caminhões deixavam os locais discretamente, acompanhados de batedores.
Em Ibirubá, na Região Noroeste, no mesmo local onde são criados porcos, funcionava um galpão onde a água e a ureia eram misturados ao leite, que eram posteriormente armazenados em caminhões sem qualquer refrigeração. O ambiente é sujo, de chão batido, e sem qualquer condição de higiene. A ureia era acrescentada ao líquido em forma de pó e contém formol, uma substância cancerígena.
O engenheiro químico Jerônimo Luiz Menezes, da promotoria de Defesa do Consumidor, explica que a ureia era utilizada para “dar volume” ao leite. “A utilização do formol, que está dentro da ureia, é para maquiar a adição de água que era colocada dentro do leite. Eles queriam ganhar no volume. Só que o formol é um produto cancerígeno e cumulativo no organismo. Então eles estavam usando a ureia, e desconhecendo que dentro desta ureia tinha o formol”, afirma.
Em Selbach, no Norte, a funcionária de uma empresa que armazenava o leite comprado dos produtores se surpreendeu quando ouviu que seria presa. Em Horizontina, no Noroeste, um dos investigados é um vereador que não quis comentar a acusação. A operação também foi realizada em Guaporé, na Serra, e em Ibirubá.
“Apuramos que alguns empresários do setor de transporte de leite cru, que realizam o transporte do produtor para os postos de resfriamento, estavam lucrando com a adição de 10% água ao volume trabalhado”, destaca o promotor de Justiça Mauro Rockembach. “Essa adição de água faz uma diminuição do poder nutricional do leite e eles estavam adicionando ureia, que contém formol, uma substância cancerígena condenada pela Organização Mundial da Saúde”, detalha o promotor.
Esquema de adulteração no leite é desmontado pelo MP no RS (Foto: Reprodução/RBS TV)Leite era adulterado em galpões sem higiene no RS
(Foto: Reprodução/RBS TV)
Após a descoberta da fraude, o Ministério da Agricultura determinou o recolhimento de lotes de quatro marcas dos supermercados: Latvida, Italac, Líder e Mumu. A orientação do Ministério Público é que os consumidores deixem de consumir os lotes específicos de fabricação (veja a relação complexa abaixo).
Apesar da fraude ter sido flagrada nos postos de resfriamento, o promotor também responsabiliza a indústria pela falha no processo. “Falharam no controle de qualidade, uma vez que recebem leite com ureia e formol e não detectam antes da linha de industrialização”, afirma.
Empresa é interditada e sindicato tranquiliza consumidores
A interdição da empresa em Estrela, segundo o MP, se deve ao descumprimento de uma decisão judicial que determinou a suspensão das vendas de leites UHT a partir de 1º de abril deste ano. Em contato com o G1, a assessoria de comunicação da Latvida nega que a empresa tenha sido interditada e alega que está operando normalmente. A Latvida ainda afirmou que os problemas ocorreram no lote 196 do leite UHT desnatado e que todos os outros estão liberados para o consumo.
Por meio de nota, a Vonpar, que produz o leite Mumu, salienta que a fraude ocorre nas transportadoras, que "a empresa atende a todos os requisitos e protocolos de testes de matéria prima exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento" e se coloca à disposição do MP e do Ministério. O G1 procurou e aguarda retorno das marcas Líder e Italac.
O Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindlat) também emitiu nota em que condena a adulteração e relata que acompanha a investigação desde o início. "Todos os lotes identificados com problema foram retirados do mercado e não se encontram mais à disposição do consumidor. Os estoques disponíveis no varejo estão aptos para o consumo humano", afirma a nota.

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