Modo de vida


Para os Pykopjê, como para os demais povos Timbira, o tempo é visto como uma seqüência de verão (amcró) e inverno (ta’ti), ou melhor, da estação da seca (que compreende os meses de abril até setembro, aproximadamente) e da estação das chuvas (de outubro a março, aproximadamente). Estas duas estações regulam os dois períodos cerimoniais da vida social e o conjunto das atividades produtivas. Os ritos do ciclo anual e os ligados à iniciação têm uma época prevista para serem realizados dentro do período anual. Grande parte dos ritos ligados ao ciclo anual se concentra no período da estação das chuvas, enquanto a estação seca é reservada para a realização de um dos ritos ligados à iniciação.
As festas (amji kin, literalmente: “alegrar-se”) Pykopjê são relativas ao ciclo anual (festa do milho, da batata-doce, da mudança da estação do ano), à iniciação dos jovens, à regulamentação das relações de parentesco e interpessoais (como a festa do peixe, do papa-mel, das máscaras), as festas relativas à assunção ou à entrega da dignidade de vyty (menino ou menina ritualmente associado aos indivíduos do sexo oposto da aldeia) ou ainda as festas e pequenas cerimônias relativas ao ciclo vital de um indivíduo (como o fim de resguardo do casal pelo nascimento de filhos e ritos de re-introdução de alguém que ficou afastado por muito tempo do convívio na aldeia, por doença ou luto). Nestes dois últimos casos (vyty e ciclo vital), a responsabilidade pelo suprimento de comida e bens a aldeia é da casa de origem do homem ou mulher.
Estas festas exigem uma farta distribuição de alimentos, e hoje em dia algumas festas se prolongam em período de “latência” de vários meses até que a aldeia promotora possa providenciar comida e outros itens necessários para sua conclusão. Além da comida, são necessários miçangas e cortes de pano, que são oferecidos para os participantes das outras aldeias.
Cada festa é marcada pelo nome de uma tora de corrida específica e por cantos específicos – o que leva à conclusão que sem um “cantador” (incrercatê) que domine os cantos, não se pode realizar determinado ritual. As aldeias que não o possuem superam o problema “contratando” um cantador de outra aldeia do próprio grupo ou de outra aldeia Timbira.
As festas marcam assim a solidariedade necessária ao convívio nas aldeias e são momentos em que se enfatizam as regras de comportamento. Os amjkin, além de proporcionarem um momento de alegria e descontração – nestes momentos os jovens têm a oportunidade de conhecer mulheres de fora, assim como é permitido aos homens e mulheres casados experimentar relações sexuais extramatrimoniais –, são fundamentais para a atualização da estrutura sociocultural e para o equilíbrio das relações internas.
Portanto, as “festas” preenchem o calendário anual das aldeias quase integralmente: sempre, em qualquer período do ano, uma aldeia estará preparando uma festa, executando outra ou aguardando condições para finalizar uma outra.

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