Por que chegou a hora de mudar a política



O sistema político está falido e o brasileiro está cansado da polarização estéril. O cenário global mostra a importância da construção de alternativas com capacidade de diálogo



O primeiro ministro do Canadá,Justin Trundeau(á esq.)cumprimenta o presidente da França,Emmanuel Macrom,em encontro do G-7 (Foto: Stephane De Sakutin//REUTERS)
A falência do sistema político no Brasil torna urgente a renovação da política e do contrato social em nosso país. O Estado brasileiro foi apropriado por interesses privados de indivíduos e corporações e se distanciou de sua obrigação constitucional de proteger e melhorar a vida de todos os cidadãos, independentemente de classe social, raça, gênero, idade ou credo. A população está exausta diante de um acúmulo de crises: moral, política, econômica e de segurança.
Os brasileiros têm razões para estar preocupados: a desigualdade cresceu, o desemprego está em quase 14% e cerca de um terço dos cidadãos dizem que deixariam o país se pudessem. A maioria de nós deixou de acreditar na mudança, enquanto muitos outros se tornaram apáticos. A política tradicional, os partidos e os atuais políticos estão em forte queda no imaginário dos eleitores. A pesquisa encomendada pelo movimento Agora! à Ideia Big Data, realizada em julho com 10 mil pessoas em todo o país, confirma o sentimento das ruas: 79% dos brasileiros concordam com a afirmação “gostaria muito de ver os cidadãos comuns (de fora da política), como professores, empreendedores, funcionários públicos concursados, trabalhadores da indústria, profissionais liberais, entre outros, candidatos em 2018”.
Na mesma pesquisa, 72% das pessoas responderam que não se importam se uma política pública é de direita ou de esquerda, desde que torne sua vida melhor. Outras 77% destacam que votam na pessoa e não se importam com o partido político – na Região Nordeste, esse percentual chega a 90%. Fica evidente o desgaste da polarização e a desconexão entre os políticos e partidos atuais e os problemas reais das pessoas.
A frustração com a política tradicional se estende muito além do Brasil. A decisão de 53% dos britânicos de votar para sair da União Europeia é um exemplo. Outro exemplo foi a inesperada eleição de Donald Trump em novembro de 2016. Terremotos políticos similares ocorreram na Hungria e na Polônia, tendo sido evitados por muito pouco na França e na Holanda. Para alguns especialistas, esta é uma reação daqueles deixados para trás pela globalização e pela automação. Outros dizem que é a reação às elites “alienadas da realidade”. Tanto a história quanto o atual cenário global oferecem lições sobre a grande importância de uma alternativa política unificadora e inclusiva para o futuro do Brasil. Seja na Venezuela ou nos Estados Unidos, a polarização extrema está corroendo o meio-termo.
Há, no entanto,  exemplos recentes de uma nova geração de políticos que oferecem uma visão mais convergente. Tanto Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, quanto Emmanuel Macron, presidente da França, oferecem uma proposta inovadora que une a política formal a novos métodos e ideias. Trudeau beneficiou-se da força tanto de sua forte base partidária como de seu legado familiar. Em encontro com Trudeau e ministros de seu gabinete no mês passado, pude conhecer de perto suas propostas que estimularam a imaginação do eleitorado, incluindo transparência radical e comprometimento com a diversidade e liberdades individuais. Macron, relativamente desconhecido até um ano antes da eleição, lançou um novo movimento que mobilizou os franceses e propôs soluções pragmáticas para seus problemas diários.
As eleições de Trudeau e de Macron oferecem lições para a renovação da política no Brasil. A primeira é que a comunicação constitui uma via de mão dupla. Políticos frequentemente falam em vez de ouvir. Perguntar às pessoas suas opiniões e do que precisam foi uma característica fundamental das campanhas de Trudeau e Macron. A segunda é que a mobilização acontece tanto on-line quanto off-line. Estrategistas digitais das campanhas de ambos nos contaram sobre o processo de consultas on-line e de mobilização de milhares de voluntários que foram de porta em porta para entender os problemas dos cidadãos. A terceira é construir bases comuns e alternativas à polarização. Ambos escolheram políticas e pessoas abertas ao diálogo de todo o espectro político. 
A renovação política, econômica e social no Brasil requer um esforço coletivo de dentro e de fora dos poderes do Estado. O Brasil não será salvo por um herói. Em vez disso, mentes preparadas e bem-intencionadas dos mais diversos setores da sociedade e de todas as classes socioeconômicas serão necessárias para construir uma nova cultura política. Os valores dessa cultura devem ser orientados pelo bem público, pelo comportamento ético e pelo comprometimento com a inclusão.
O Agora! quer renovar a agenda pública e a ação política a partir de cidadãos comuns com experiência em áreas-chave e comprometidos com a reconstrução do país. Não fundamos um novo partido, mas uma plataforma que vai ajudar a implantar uma agenda de reformas visando a um país mais simples, humano e sustentável. O Agora! não está sozinho. Há sinais promissores de um novo ativismo político no Brasil. Professores, profissionais liberais, líderes comunitários, empreendedores sociais e líderes empresariais estão construindo movimentos na intenção de infiltrar-se num sistema dominado por partidos tradicionais compostos de velhos conhecidos. Entre eles estão o Acredito, a Bancada Ativista, o Quero Prévias, o Transparência Partidária, o Brasil 21 e o Construção.
Sob a bandeira Nova Democracia, esses grupos têm pautas em comum, incluindo o teto para doações individuais para campanhas, prévias e transparência nos gastos dos partidos, candidaturas independentes e o não ao distritão. Apesar de parecer mais simples que o nosso sistema atual, o distritão dificultaria ainda mais a renovação política no país. Por isso, é visto como tábua de salvação por muitos políticos ultrapassados, apegados ao poder e ao foro privilegiado.
Os brasileiros precisam de uma nova geração de líderes com coragem, responsabilidade, determinação para mudar o país e que unam as pessoas em lugar de dividi-las. Precisamos de renovação política com ética, propósito de mudança e propostas de qualidade. Chega de polarização – a hora é de diálogo, trabalho conjunto e construção.

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