SERTÃO VARANDO MUNDO
Por: Débora Souza
SERTÃO MARANHENSE: UM OUTRO SERTÃO
Quando ouvimos falar em
sertão é comum associarmos
a uma região seca e pobre,
nos moldes do que foi descrito
pelo autor Euclides da
Cunha na obra “Os Sertões”.
No entanto, o pesquisador
da Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA), Alan Kardec
Gomes Pachêco Filho,
apresenta o sertão sob uma
perspectiva diferente, como
um lugar onde nascem muitos
rios, pensadores políticos
e intelectuais, onde afloram a
poesia e a prosa.
O historiador nasceu na cidade
de Grajaú, localizada no
sertão do Maranhão, motivo
que despertou interesse pela
história de região. Durante
sua infância naquele municí-
pio, Alan Kardec presenciou a
chegada de lanchas e batelões
vindos de Vitória do Mearim,
cheios de mercadorias para
abastecimento do sul maranhense
e norte de Goiás.
“Tenho muito vivo na memória
que, no início dos anos
70 do século XX, eu assistia a
chegada de lanchas com tecidos,
querosene, açúcar e,
principalmente, sal. No verão,
apareciam os batelões, espé-
cie de canoas, navegadas com
varas. As viagens duravam
até uns noventa dias. Eu via
isso e ficava bastante curioso
para compreender mais sobre
a navegação fluvial nessa
área”, lembrou.
O interesse pela história local
impulsionou-lhe a produzir
a tese de doutorado “Varando
Mundos: Navegação no Vale
do Rio Grajaú”. Enquanto pesquisava,
ele descobriu que,
além da região onde Grajaú
está localizada ser uma área
de muitas nascentes dos rios
maranhenses, também é ber-
ço de grandes intelectuais.
“Grajaú foi um grande entreposto
comercial do sul do
Maranhão no fim do século
XIX e parte do século XX. O
rio Grajaú era o grande elo
entre o norte e o sul do Maranhão,
pois era o caminho
menor de deslocamento entre
esses espaços no período de
chuvas”, disse.
Segundo Alan Kardec, as
terras de Grajaú, no século
XIX, iniciavam no rio Mearim,
em Barra do Corda, e terminavam
no rio Tocantins, onde,
hoje, fica Imperatriz. Também
no Sertão de Pastos Bons (denominação
utilizada por invasores
vindos da Bahia), nascem
80% dos rios maranhenses,
dentre eles o Itapecuru, Corda,
Mearim e Grajaú.
A cidade de Grajaú tinha
grande importância porque
atraía muitos que queriam
comercializar sal, arroz, algodão,
crina de animais e as famosas
drogas do sertão.
Aquela área recebeu alguns
dos participantes da Revolu-
ção Pernambucana de 1817,
da Confederação do Equador
de 1824, da Setembrada e da
Balaiada (ambas ocorridas de
1831), que fundaram escolas
para ensino de aritmética,
português e latim.
Um dos que teve destaque
naquele período foi Militão
Bandeira Barros, filho bastardo
do capitão-mor Antônio
Bandeira Barros. Militão recebia
na sua casa em Grajaú,
estudiosos da literatura, economia,
indústria, geografia,
fatos históricos, geologia e
metafísica. Essa atividade foi
chamada de “roda de amigos”
e ela quem deu origem à Academia
de Letras de Grajaú.
Outros intelectuais nascidos
em Grajaú foram João Parsondas
de Carvalho e Carlota
Carvalho, que eram irmãos e
escreveram sobre o sertão.
Além deles, Euclides Carneiro
Neiva, Leão Léda, Amaral Raposo
Gonçalves e Souza Bispo
também tiveram destaque no
sertão maranhense.
“Neste sertão de águas,
que tem em comum com o
sertão euclidiano apenas o
fato de ser um local distante,
um local de espera, no sentido
de esperança, para onde muitos
fugiram e construíram vida
nova. Baianos e pernambucanos
fugitivos, por exemplo,
que por causa da distância e
dificuldade de chegar a esses
locais, fundaram ali escolas e
rodas de intelectuais”, ressaltou
o pesquisador.
Vista panorâmica da cidade de Grajaú
Imagem da Internet
6 | UEMA NOTÍCIAS
CULTURA
Por: Carol Ribeiro
O BUMBA MEU BOI E A CONSTRUÇÃ
Comentários